Com mais de 100 anos, fábrica de banha é símbolo da história do Município de Grão-Pará
terça-feira, novembro 19, 2019
Ainda é evidente a construção da antiga fábrica de banha no centro de Grão-Pará. Apesar de estar rodeada por construções atuais, entre prédios e casas, é possível ver a chaminé alta e eminente. Propriedade da Família Alberton desde os anos 40, mantém as características históricas de um município em crescimento, que foi se desenvolvendo em torno dela enquanto os anos passavam. Hélio Alberton, um dos herdeiros e residente no município, possui uma escritura do ano de 1917 da empresa Pinho & Cia Ltda do Rio de Janeiro, primeira proprietária da fábrica que, naquele tempo, estava em terras pertencidas a Orleans.
A Pinho & Cia Ltda adquiriu uma boa área de terra no centro de Grão-Pará com o objetivo de construir um abatedouro de suínos. Em seguida, começou a construção da fábrica de banha, funcionando por anos com essa mesma razão social. Posteriormente seu João Batista Alberton tornou-se sócio dessa empresa e por mais alguns anos realizaram os trabalhos juntos dentro da fábrica.
Em meados dos anos 40, João Batista adquiriu a outra parte da fábrica que pertencia a Pinho & Cia Ltda e determinou que se chamaria “Fábrica de Banha Marca Silvina”, homenagem a 2ª filha mais velha. A fábrica trabalhava a todo vapor, de manhã e à noite, com aproximadamente 60 funcionários. João Batista também tinha o apoio da esposa Maria Crozetta Alberton e dos oito filhos, que trabalhavam juntos pelo desenvolvimento da fábrica.
A Família Alberton realizou reformas na construção inicial para que o espaço fosse ampliado e diversas melhorias facilitassem o trabalho no local. Toda a produção era levada de caminhão até Gravatal, e de lá era levada até o porto de Laguna. Depois, seguia para ser vendida nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. Pouco era vendido por aqui, pois o varejo naquela época ainda não havia se desenvolvido.
Foto 1: Arquivo da família Alberton
x
Foto 1: Arquivo da família Alberton
x
A carne do porco era salgada como um charque e depois era colocada em caixas de madeira. As banhas eram embaladas ali mesmo em latas de 5 e 20 kg. No terreno da fábrica, havia uma balança grande, onde eram pesados os porcos que eram trazidos em carros de bois. As vezes, os agricultores precisavam esperar meio dia para descarregar os animais, pois não havia mais lugar para colocar tantos porcos. Na balança, eram pesados de 15 a 20 porcos por vez e depois eram colocados em um mangueirão atrás da fábrica.
Todos os dias um fiscal federal vistoriava a fábrica, e não liberava os porcos para o abate sem que fizesse toda a inspeção. O fiscal inclusive residia em Grão-Pará para realizar este trabalho. As partes dos porcos que não eram utilizadas e o resto da produção de banha eram colocados em um equipamento chamado autoclave que moía tudo e transformava em um líquido que era dado para os porcos.
Na fábrica havia duas caldeiras em estilo redondo, as quais eram aquecidas através de um locomóvel que derretia o toucinho (banha) e também uma prensa grande para fazer torresmos que depois eram levados pelos carroceiros para vender principalmente em Braço do Norte, Gravatal e Tubarão. Hélio ainda conta que naquele tempo era comum ver o pai fazendo trocas de produtos com os agricultores. Segundo ele, muitas vezes as pessoas levavam a carne e traziam laranjas cravas de presente.
Em 1958, Grão-Pará foi emancipado de Orleans e João Batista Alberton tornou-se o primeiro prefeito eleito do novo município. Com a vida política, João Batista, tirava muitas vezes os recursos do seu empreendimento para ajudar os outros. A fábrica encerrou suas atividades por volta de 1965 um pouco por causa disso e também da decadência da produção de suínos, do porco comum e, principalmente, por consequência da ascensão do óleo industrial.
Hoje, com mais de 100 anos de história, a fábrica mantém alguns dos equipamentos da época. Hélio tem a pretensão de tombar o local como patrimônio histórico, mas isso ainda não foi possível. Por enquanto, a fábrica permanece firme, bem no centro da cidade, servindo de símbolo do crescimento de um município rico em história e de gente que trabalha.
Foto 1: Arquivo próprio | Foto 2: Arquivo Família Alberton
Texto: Ana Caroline Bonetti
Publicado em 2016 no Jornal O Visor
(Texto atualizado)